Não bastasse o falecimento prematuro do pai, a madrasta e
suas filhas eram dose insuportável de tormento diário!
Investiam até provocar choro, até notar o amargor somatizado
em vômitos, cefaléias e úlceras estomacais!
Anastácia e Drizela, não se deixavam demover por rogos da
“irmã”, e arrancavam tufos dos fios trigais, enfeitavam de vergões e hematomas
a brancura da pele, e pesavam seus punhos para moer as faces da moça, e ela
gemia baixinho, pela culpa de ter sido adornada com beleza dulcíssima e
natureza meiga!
Em ocasiões festivas manejavam-na como serviçal, e a
repreendiam em oculto até por seus êxitos; rangiam lhes os dentes quando algum
olhar interessado se fixava disfarçado, tementes do apercebimento das mulheres de
polidez simulada!
Na ocasião dos eventos reais o príncipe se dignou em visitar
a aldeia, e foram agitados os costureiros, ourives, joalheiros e toda
comunidade gastronômica.
Havia expectativas de escolhas amorosas da nobreza em sonhos
camponeses audaciosos, mas uns poucos escolhidos se achegavam às mesas
festivas, e, das donzelas escolhidas todo aproveitador oferecia encantos e
afrodisíacos seguros para a conquista!
Aquele evento, porém, foi particular!
Houve cavalgada de ostentação, homenagens; e a confraternização
despertou interesses do filho do rei pelas belezas locais!
Era de interesse do monarca pacificar inda mais aquela
região de campos bem irrigados, e pecuária de gado robusto e fértil!
Na noite da festa, os que tinham belas filhas a apresentar vestiram
com a sofisticação possível ao ordenado, ou, por empréstimos de conhecidos mais
abastados, e, da multidão feminina que se deslocava para o ambiente onírico mãe
e filhas deixaram sob chaves a esfarrapada enteada!
Por acaso o choro da moça trouxe a fada; e esta se arranjou
com ratos, abóbora, e encantos o desejo de dignidade!
A moça partiu em seda, ouro e pés acolhidos pela delicadeza
de sapatinhos de cristal!
No baile não houve outro encanto!E o filho do rei se uniu em
movimentos sem perceber ao corpo da humilhação, e percebeu seu futuro naqueles
olhos, e uma valsa só durou a noite inteira!
A meia noite era o limite dos sonhos dela, e o partir foi
próximo à sublimação da realidade, mas pressa ainda deixou uma lembrança!
Não houve sono no quarto do mancebo, e já na madrugada a
escolta perturbava os sonantes, e as mãos do moço tentavam o ajuste nos pés do
recente amor!
Havendo muito povo no evento, as visitas se delongaram toda
a quinzena, e já era sem surpresa que as portas eram abertas ao esmurrar angustioso
dos que caminhavam junto ao insatisfeito, e a última moradia foi centro das
apreensões!
E, antes do punho ofender o portão as senhoras de faces de
sorrisos satisfeitos falharam o coração!
Mediu cada extremidade com desespero de quem já se perdeu
para o amor, e, ao notar que pé algum não se encaixava ao ajuste, perguntou se
não havia mais alguém!
A simpatia do trio pareceu não se abalar, e então, trouxeram
a beleza amputada pelos braços, e ela não pôde usar o sapatinho de cristal!
Anderson Dias Cardoso.
4 comentários:
Você... sei não... Aliás, eu li esse texto ansiosa pelo desfecho trágico que você, certamente, traria. Mesmo assim, não consegui não me chocar. rsrs
Vc foi malvado..rsrs.beijos lindo dia.
Kkkk adorei, e foi longe heim? Contos de fadas macabro.
Uma releitura da Cinderela muito instigante e atrativa! Confesso q devido à foto, fiz uma inferência sobre o final da história, porém, minha imaginação não chegou nem perto do final que vc criou! Muito bom seu texto, mas fiquei com dó da Cinderela, tadinha! rsrs
Postar um comentário