Já havia notado uma ou outra sensibilidade além da pouca
disposição relacional de que sofria e, ponderando algumas longas noites insones
se constatou menino lobo!
Para os selvagens a vida metropolitana oferecia dificultosos
entretenimentos aos marginais, e ele só podia salivar diante dos corpos
carnudos que desfilavam despreocupados em suas rotinas de um tipo mais polido
de predatismo, que se envolviam em rituais mais elaborados, promoções e ascendências
econômicas de vulto!
Na turbulência dos dias e compromissos o apuro do olfato se
mesclava ao péssimo gosto das fragrâncias para se tornar em tormento, e o que
diria da infernal barulheira articulada por todos os movimentos do progresso
municipal?
O tal jovem sofreu!
Sofreu seu bocado e um pouco à mais até parir por completo
sua verdadeira identidade, e em seus últimos dias humanos comprava animais para
sua caça indoor, e já despeitava suspeitas por um amor tão intenso e uma troca
tão constante de animais de estimação, e quando deixava o dia, trocava a
comichão do terno sintético pela respeitosa pelagem castanha de um antepassado!
Uivava suas poesias para o astro noturno, sentindo se à
vontade com os instintos aflorantes de sua conversão.
Num daqueles dias decidiu-se por ser lobo inteiro!
Viajou o itinerário mais conveniente e temperado para se
integrar às matas e à família que o receberia como filho pródigo, e persistiu
um caminho de busca local por seus pares, até que encontrasse a alcatéia
pulverizada em uma emboscada à uma preza astuta, e então, o lobo adolescente se
apresentou com seus sons e trejeitos aos que saltavam das sombras.
A suposta família não poupou o que não era dos seus, e entre
os dentes dos que achavam parentes descobriu:
Era apenas um, de tantos deslocados!
Anderson Dias Cardoso.
Um comentário:
Ah os lobos, eterna fonte de curiosidade e admiração velada dos vampiros. A violência mais pura sem disfarces. Que bom que ele conseguiu os seus. Eu ainda ando por aí, deslocada.
Um beijo.
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