segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
A Rinha.
A agitação já havia se adiantado à chegada, e os gritos e cheiros violentavam as percepções.
O corredor estreito levava ao terreiro amplo, e tantas pessoas quanto possíveis rodeavam o gradeado de tela, levantando a poeira fina em movimentos nervosos enquanto foram atirados dois novos galos ainda sobre o sangue fresco dos anteriores.
Afastei dois corpos descamisados, o suor alheio me tocou as palmas e, me esquecendo asco em favor da excitação apalpei o ordenado do mês no fundo raso do bolso.
Não haviam biqueiras ou ponteiras, para que a morte se atrasasse e houvesse mais tempo para o ajuntamento de notas e eu observava a dança das aves em asas revoltas e penas volantes enquanto entregava a esperança de ao menos um mês farto nas mãos do coletor.
-Tu...Tudo no vermelho!-A voz vacilou pela vergonha da violência do ganho pretendido, e enquanto o responsável contava as cédulas a espora favorável vazava um olho.
As unhas arranhavam o vazio, outras vezes feriam a carne, e eu torcia, não como os outros, pelo sangue, mas pelo alívio de roupas novas e comida descente.
Os perdedores das disputas anteriores distraiam as atenções dos apostadores do momento, e zombavam oferecendo pedaços fritos de suas derrotas para disfarce do descontentamento.
Os golpes rápidos deformaram as cristas, um pescoço perfurados cedeu à estocada e a pressão da retirada brusca e eu vencia alguns dias de minha miséria, vergonhosamente, por sangue alheio!
Anderson Dias Cardoso.
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2 comentários:
Olá!
Grata pelo seu comentário e sua visita.
Realmente nosso pensamento às vezes nos leva a ser utópicos demais.
Grande abraço
se cuida
Às vezes, a necessidade fala mais alto que a bondade, a ética ou outros valores quaisquer!
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