Crescia ao lado, dolorosa e assustadoramente junto ao pescoço e é claro que houve desespero e desconforto.
Não era tumor, aliás, não havia nome ou registro clínico de um apêndice tão complexo e de rápido crescimento e logo que surgiram olhos e expressões na massa estranha se viu socialmente abandonado, como peça grotesca de antigos circos de horrores.
Nos dias de desemprego e solidão verificava no espelho a evolução de pelos e tecidos e se contorcia em pequenos sustos até surgir boca e um outro pescoço altear o segundo crânio.
Não era outra alma, e o observava com a mesma tristeza com que ele próprio o observava e foi esta mesma boca recente quem se abriu primeiro e disse sentir muito.
Foi a única frase; e ele carregava envergonhado o apêndice silencioso aonde ia, em todos os lugares de mau-querer, seguido em olhar por olhos que de alguma forma também eram seus.
Além do corpo, compartilhavam tristeza.
Completaram outro ano de convívio mudo e uma das cabeças cogitava suicídio, ou decapitação, a outra respondia com a mesma estampa aos humores turbulentos do corpo compartilhado.
Então o corpo foi direcionado pela cabeça ancestral, e a outra não resistiu; e tendo na mão esquerda a faca ameaçou um corte.
-Suicídio ou homicídio, qual será o ponto de vista!?
O primeiro par de olhos se fechou, logo, o segundo...
Anderson Dias Cardoso.
Um comentário:
Você é louco! HAHAHAHA
Seu texto me fez lembrar das experiências que os caras faziam em meio ao holocausto, de transplante de cabeça de cachorro. kkkkkk
Parece crueldade, aliás, é cruel, mas foi essencial pro avanço da ciência.
Só lembrei mesmo. À toa. huahau
Abraços, Anderson
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