domingo, 21 de agosto de 2011

O Restaurante Recorrente.


Um ambiente redundante, onde um grupo disposto se encontrava às quartas para reviver um dia de suas vidas indefinidamente.
Nasceu do acaso, e atraiu pelo nome toda sua freguesia, e cada qual se apegou ao seu espaço com ciúme, tornando restrito o acesso a outros que não os primeiros visitantes.
Nele a surpresa era proibida, e a ausência de uma pessoa significava quase sempre sua morte.
A segurança da rotina era o escape de uma vida imprevisível e atribulada.
Os pratos e escolhas se repetiam, mesmo com alguns excessos de especiarias, sabores desagradáveis ou escolhas equivocadas. Eram sagradas tais repetições, mesmo as falhas, e elas faziam parte do roteiro que fora despretensiosamente escrito um dia.
Traziam de casa os mesmos problemas, pensamentos e até indisposições orgânicas.
Um namoro foi reatado por mil vezes, um saleiro se quebrou e foi substituído tantas vezes, um garçom mal vestido grunhiu pela falta da gorjeta toda quarta...
Eles cumprimentavam, ou ignoravam-se de acordo com o dia da inauguração, seus rostos diziam sempre as mesmas coisas, e eram mudados em muito pouco por rugas, manchas senis ou cicatrizes e ferimentos dos dias comuns.
Apenas uma mesa variava em seu conteúdo e atendimento, e toda esta estrutura que destoava a rotina daquele espaço era situada à parte, com cozinha e garçom próprios.
Os frequentantes da mesa livre eram escolhidos, depois de propostos, pelos anfitriões para substituir algum companheiro morto, e observava sem interferir, e com muita liberdade até que se decidisse e começasse a se limitar e optassem por um dia para ser vivido eternamente.
Uma vez admitido, buscavam uma introdução pouco traumática ao grupo, com poucos diálogos e interações, e eles passavam a se reconhecer (mesmo que tivessem se visto por centenas de vezes), passavam a existir uns para os outros.
Tornava parte de seu dia comum, tão recorrente quanto todos vividos naquele lugar.
Então todos jantavam, bebiam e representavam perfeita e integralmente seus papéis restritos, e partiam para um mundo selvagem que os permitia correr riscos, exercer sua maldade ou bondade, sentir toda ansiedade possível e até morrer...
Mas toda quarta se viam trazidos àquele lugar por essa previsibilidade que apaziguava seus corações covardes.


Anderson Dias Cardoso.

Um comentário:

Célia disse...

Eu não sei se entendi...rsrs..mas acho q o texto trata da rotina...da eterna falta de mudança e da acomodação que muitas vezes, toma conta da nossa vida em determinadas situações...bom..se não é isso, não entendi! kkk...como sempre..perfeito! bjos

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...