Reduziu e logo estacionou o “monstro” no acostamento diante das três vacas.
Ao descer cuspiu a saliva grossa que lhe inundava a boca, mas esta teimou em prender-se aos lábios e marcar a roupa.
A pausa também era oportunidade para urinar e junto ao ruído do processo ouviu cochichar das bocas bovinas; que além de capim ruminavam um diálogo quase filosófico onde a problemática era as novas formas de clonagem, e ao ouvirem seus passos o incluíram no assunto.
-E o que lhe parece João?- O timbre doce da voz da criatura malhada o fez se esquecer de perguntar de onde se conheciam.
-Haverão ganhos interessantes à custos altos. Regeneração orgânica, retardo do envelhecimento, cura de doenças...Empirismo cientifico com animais e humanos, engenharia genética aberrante...
-Não é esse tipo de clonagem que está em debate- Resmungou a vaca castanha- O mundo está sendo inundado por clones intelectuais em escala industrial.
-Dizemos de reproduções de estereótipos comerciais criados pela veiculação viciosa de conteúdo irrelevante e induzente –Completou a rouca vaca negra.
-Ainda existem guetos de produção intelectual e relevante nas mídias...- Articulou com o hálito etílico e perdigotos saltando involuntariamente enquanto a razão combatia a vertigem e acertava os pensamentos.
-Sim! Conteúdo pago- assumiu a malhada- quanto à TV aberta ou qualquer veículo, eles o apresentam tão repetitivamente, com diagramação tão pobre e linguagem tão desinteressante que não retornamos à esses canais e meios pela certeza de nos depararmos com uma reprise sem ao menos atrativos áudio-visuais!
-Essa mesma repetição é encontrada nos conteúdos dos canais “ordinários,”-Mugiu a vaca negra- só que disfarçada de conteúdo novo, e cada vez mais apelativo.
-As variáveis da programação são basicamente os produtos, fetiches e ideologias desagregadoras pedidas pelas conjunturas sócio político econômica- sorriu a criatura castanha.
-Uma unificação ideológica mundial encabeçada por empresas exportadoras de...-num repente a lucidez retornou ao motorista, e a realidade da conversa se tornou em um medonho delírio, e ele correu de volta ao seu caminhão, e dando partida arremeteu contra o trio ruminante, e daí em diante não era mais consumidor de “rebites”.
Anderson Dias Cardoso.
3 comentários:
Menino fico doida com as coisas que vc escreve. Me sinto numa montanha russa. E não quero perder nada. Beijo, boa semana.
haahahaha!
Texto engraçado e inteligente.
Minha opinião é que essas e várias outras vacas brasileiras deveriam abandonar a televisão e começar a selecionar melhor seu entretenimento!
=D
Você, moço, é o cara!!! Nunca te vi...mas te admiro pelos textos que escreves...Super inteligente!!! Quando eu crescer, quero escrever assim! rsrsrs..bjosssssss
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