Outra briga daquelas. Tal qual todas as anteriores, possuía
lá seus bons argumentos, maus argumentos, sofismas, sentimentos reprimidos que
encontraram o momento oportuno para serem lançados na face do cônjuge,
intervalos de silêncio, alguns palavrões e até, ameaças de agressão!
Eram um casal sofisticado. Ambos muito bem posicionados na
sociedade, então, estes tipos de embates sempre ocorriam com artifícios bem
elaborados de retórica, psicologia; levando em consideração a história e o
histórico de toda a linhagem de ambos.Naquelas ocasiões valiam a pena os
estudos, reprodução, e leitura das posturas corporais; habilidade de hackear a
vida do parceiro, consultar os extratos do cartão de crédito, neurolinguística, horóscopo...
De certo que tudo isso acabou por levar ao desgaste!Ambos
eram muito competentes em seus ciúmes, justificativas, desconfianças; e, como
acho que deixei subentendido acima, eles eram ótimos argumentadores!
Voltando à briga. Àquela horrível briga, que parecia que
definitivamente desfaria aquela união de quinze anos; seguia naquele empate de
razões, e muita agressividade!
A mulher já pensara em correr à cozinha, para novamente
lançar mão da faca de estimação das pelejas do casal, e lhe gritava todo seu
rosário de impropérios!
O homem estava cansado daquilo! Temia não suportar, e acabar
revidando fisicamente aos danos verbais. Foi então que sentiu o rosto seu se
afogueando, os olhos injetados e dentes rangendo...Explodiria ali mesmo,
naquele momento, se não tivesse se lembrado de uma única ocasião em que haviam
sido felizes, em todo aquele tempo.Não havia mais força para nada além daquele
sussurro:
-Meça suas palavras,
parça!
A frase do funkezinho vagabundo lhe pegou de surpresa, e o
riso acabou por desarmá-la!
Definitivamente, aquilo não combinava com ele!
Ela gargalhou, e ele gargalhou.
O casamento ainda duraria algum tempo!
Anderson Dias Cardoso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário