domingo, 3 de julho de 2011

A Mudança.


Uma orgia de plásticos bolha e jornal e todos os móveis e objetos eram embalados para transporte.
Da boca da matrona partiam a maioria das reclamações, mas cada qual cuidava do que lhe era caro, afastando seus apegos das mãos dos carregadores, e entre sofás aveludados e vídeo game tudo foi se acomodando no fundo do baú, e ainda notando vagas e sob apelos sentimentais levaram peças dignas do lixo.
-Isso ou aquilo me trás recordações- e se agarravam aos dispensáveis e eles próprios os conduziam ao veículo.
Então, depois de seleções pautadas em sentimentos os “descartáveis descartados” foram arranjados de modo a facilitar a remoção e limpeza, e com olhadelas e suspiros já saudosos deixaram o imóvel cerrando o portão alto e ruidoso, já com sentimentos novos e felizes à respeito do novo destino.
Não houve cerimônia de despedida. Eram pessoas reservadas e em seus vizinhos não encontraram nenhum atrativo ou necessidade que os impulsionassem à comunicação.
Sua falta não foi notada, a não ser pela agitação canina no quintal.
No primeiro e segundo dias só houve silêncio, mas, notada a falta dos donos uivos doridos passaram a incomodar a vizinhança.
O coro choroso contava dois timbres, e tais timbres denotavam portes diferentes; muito grande e muito pequeno.
Vez ou outra o conjunto parecia se desfazer em uma briga barulhenta, mas logo se uniam em uníssono para invocar a presença de seus donos, e a cantoria durou uma semana e dois dias, até que um grande volume começou a chamar atenção se atirando contra o portão com todo restante de força. 
Notando o desespero finalmente se convenceram que já não havia moradores na casa e selecionado um; de espírito mais aventureiro, este trepou dificultosamente no muro alto e viu um corpo grande, porém magérrimo estendido próximo ao portão. Língua de fora, boca espumante e olhos revirados em suas órbitas.
Não muito longe encontrou o corpo descarnado e ossos meio roídos de um pequeno vira-lata.
As náuseas e a indignação foram regurgitadas dali mesmo, ele desceu do muro sem dizer palavra... Não havia mais vida naquela casa.

Anderson Dias Cardoso.

2 comentários:

Monstrinha disse...

Que horror! Que sacanagem deixarem os cachorros pra tras!!

Bom conto! Provocou a reação desejada: Indignação!

Masturbação Mental disse...

sem comentários,você dispensa...rsrs
cara você omilha!kkkkkkkk

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