Andava triste, muitos haviam notado. Visitava constantemente
suas farmácias prediletas, evitava todo contado desnecessário, e até fora
internado em algumas circunstâncias com marcas estranhas pelo corpo.
Diziam que havia sido ameaçado por telefone, várias vezes,
por uma voz que dizia parecer conhecida, de madrugada, mas eu acredito que o
término do casamento por conta daquela ocasional traição, e a mudança da esposa
e filhos para outra cidade havia mexido com sua cabeça. Ele sempre negou
abertamente, e procurou participar de toda festança disponível, mas reclamava
de sintomas de sonambulismo e inapetência, além de adicionar outro maço de
cigarros à sua rotina.Nunca fora de beber; experimentou desta vez, mas o gosto continuava
não lhe apetecendo.
Parece que o processo de ameaças havia se intensificado na
última semana. Achei que o havia visto em uma casa de camping, e pensei que
seria interessante para ele refrescar a cabeça no “mato”, mas parece que não
era bem isso que ele pretendia...Se soubesse teria tentado conversar com o
cara!Armas em casa costumam ser uma coisa perigosa!Mas ele andava tão estranho!
Vi outro dia ele conversando com alguém. Parecia nervoso, e
repetia que tinha que se defender; a outra pessoa sugeriu que chamasse a
polícia, mas ele virou as costas e o ignorou.
Eu até queria me aproximar, mas achei melhor não... Ele
podia estar metido em alguma treta, e acabar sobrando pra mim também.
As luzes da sua casa agora costumavam se acender e apagar em
horários bem esquisitos!Vizinhos curiosos sempre notam qualquer variação de
comportamento, e sofrem daquele comichão de espalhar seu conhecimento a quem
estiver disposto a ouvir, mas, curiosamente em casos de morte parece haver uma
espécie de amnésia e cegueira coletiva!Sempre se encontra um cadáver depois de
tantos dias, pelo incômodo do cheiro, geralmente anunciado por uma criança de
pais desfavorecidos!Tudo tão conveniente!
Encontraram a casa desarrumada, suja, e com comida instantânea
estragada distribuída nos mais diversos lugares!O corpo exangue, o sofá tinto
de vermelho e o celular deitado ao lado.
Achei meio sinistra essa história, mas os caras viram o
policia, que era conhecido da galera, dizer que a voz do perturbado no celular
era a mesma do finado, distorcida por algum efeito de computador.Se entendi
bem, ele deixava suas ameaças na secretária enquanto dormia, as ouvia de manhã...
Mundinho de malucos!Os kamikazes de antigamente eram muito
mais bacanas!
Anderson Dias Cardoso.
Um comentário:
Mais um texto interessante...Abraço!
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