sábado, 22 de agosto de 2015

Descobrindo-se.

Olhos de nebulosas, e corpo diluído de matéria, radiação eletromagnética, luz; ocupando todo o infinito, em milhões de dimensões... Não sei o que fui, sou, ou serei; e permaneço (ao menos nesses instantes) como recente desperto; sem par, com muitas dúvidas, sentindo meu colossal corpo se estriar, distendendo-se pra não sei onde!
Algumas galáxias já sumiram dos meus quadrantes, minhas estrelas se transformam em pulsares, enquanto que, como úlceras, tantos buracos negros devoram elementos celestes saudáveis. Acho que estou morrendo; e quem irá me confortar?
Espere. Existem outros seres menores, como delicados vermezinhos polvilhados em diversos pontos do meu corpo, que entendem sobre a morte, fragilidade e desesperança. Talvez me ajudem a entender a minha própria entropia... Eu só preciso conhecer a sua língua.
Eu só preciso os convencer a me contar suas histórias!




Anderson Dias Cardoso.






quarta-feira, 19 de agosto de 2015

No Teu Ar.

-Te disse que gostaria de saltar de paraquedas?
-Uma vez. A vontade ainda persiste?
-Acho que sim.
Então o homem estendeu a mão pro espaço vazio diante de si, afastando uma ponta da cortina da realidade, e logo tomava o lençol de casal para lhes fazer o aparato.
Quando passaram aquele limiar, lá estavam, à beira dos céus!
-Vamos saltar?
-É claro!
-Mas... O que acontece, então?
-O que você quiser, ou imaginar; estamos no seu poema!





Aderson Dias Cardoso.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Amor...

-Posso ser sincero contigo?
-Claro!
-Só estou com você por conta do seu dinheiro.
-Hum.
-Não está chateado?
-De maneira nenhuma!Acho a sinceridade uma virtude que acaba por suplantar seu interesse, e, já que chegamos a esse nível em nosso relacionamento, eu não tenho mais dinheiro algum.Tudo o que me viu gastando foi advindo do meu contrato de recisão.Estou duro!Duríssimo!
-Nosso verdadeiro relacionamento começou nesse minuto.
-Sim. Agora vamos; o último ônibus já deve estar passando por aquele ponto em frente ao coleginho.
-No final, não somos pessoas tão ruins.
-Não.





Anderson Dias Cardoso.

domingo, 16 de agosto de 2015

Como Dizia o Tio Ben...



O último quadro que se recordava da situação era o pintado com gritos e desaforos, pelo troco errado passado por aquele jovem caixa. Foram, lhe parecia, por conta de uns malditos cinco centavos, e o garoto quase se encolhia atrás do balcão, tamanha vergonha. Na verdade, não se sentiu mal, e achava que aquilo tudo fora merecido, mas, não sabia se por conta da sorte, notou que ambos eram filmados. Era preciso contornar a situação.
-Sabe quem eu sou, Sr... Algélio?
-Sim, senhor.
-Sabe que sou uma das pessoas mais ricas do Estado, correto?
-Sim, senhor.
-Então... Sei que fui meio indelicado contigo, e proponho uma brincadeira, para descontrair, e te compensar pelos meus exageros.Concorda?
-O que o senhor quiser.
-Eu tenho em meu bolso um objeto e, caso o senhor me descubra o que é te dou aquele carro que está lá fora.
-Mas, senhor... é muito...
-Eu sei que deve estar pensando que estou só brincando com sua cara – disse já depositando as chaves sobre o balcão – Aqui estão. São suas, caso consiga.
O garoto hesitou um pouco, fechou os olhos, mordeu o lábio inferior, e sussurrou algo inaudível.
-Não entendi, meu filho. Poderia repetir. Desafiou o debochado figurão.
-Disse que há um maço de cigarros, mais propriamente, um Marlboro, em seu bolso – a voz agora era firme, e o homem gargalhava a perder o fôlego.
-Muito bom!Muito bom, meu caro!Mas, como acredito que tenha notado, eu entrei aqui com minha carteira em mãos. Eu não tenho um bolso sequer em toda minha vestimenta; e além do mais, eu nem fumo!
-O senhor poderia tentar seu lado esquerdo, na parte da frente? – insistiu o rapaz, e o homem o fez; sacando da calça cara o objeto predito.
-Meu Deus! – As mãos trêmulas, e os olhos vidrados examinavam assustados aquele pequeno volume.
-Nunca subestime os garotos que trabalham à noite, em humildes conveniências, e quanto ao seu carro, fique com ele. – bradou a boca espumante do mancebo, enquanto se vaporizava e sumia diante dos olhos do poderoso homem.
Passos meio vacilantes, e o estado era de uma semi catatonia.O pé direito tocou o macio carpete de seu importado, quando ouviu ao longe uma voz insistente, que acompanhava um vulto. Quando este se pôs bem às vistas, notou o moço de uniforme suado, e respiração ofegante.
-Senhor, são R$ 19,85 pelo seu consumo.
-Mas... O que aconteceu com você?
-O que não era para ter acontecido... - choramingou o balconista.
O homem abriu a carteira, lhe entregando uma nota de cem, insistindo que ficasse com o troco.
Era melhor guardar sua curiosidade para coisas mais racionais.



Anderson Dias Cardoso.
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