segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Dois Dedos D'água!



Andava avesso à vida, como aquele que encara as felicidades como discretas sereias boêmias.
Fora marido que já passara por atraiçoeiramento da mulher de seus votos; já perdera todos amigos que valiam lhe a pena e um emprego ruinzinho, mas de rendimentos que lhe garantiam os poucos mimos que sua rigidez aquisitiva permitia!
Desacreditara à certa altura de toda palavra positiva que recebera; as negativas sempre lhe pareciam mais sinceras, e quando a mãe tentava o animar, repetindo o prato favorito ele pensava em qual das milhares de degustações aquilo tudo havia deixado de fazer sentido!
Sua cadela cega fora conforto até que a senilidade roubou lhe a razão canina, e ele agora era só mais um outro à quem dispensava latidos nervosos.
A diabetes o permitiam um vago visual, proibia os outros pratos desejáveis e o presenteara com a impotência, e se feria com qualquer gravidade, a danada o permitia sangrar eternamente!
Quando aquele dia decidiu recolher sua luz pés doíam de andanças, em confortáveis palmilhas ortopédicas, mas não desejou retornar ao velho pouso, então o tropeção o lançou na imunda poça do desrespeito político...
Debateu-se um pouco, mas resolveu deixar-se inundar so pulmão "efisemados”, pois pequenas tragédias se afogam em dois dedos d’água.


Anderson Dias Cardoso.
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