quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Quando Um Abismo Chama Outro Abismo...


Pedia licença em cada casa, e à despeito de sua polidez e bons antecedentes o seu vício; particularmente sua cleptomania, o tornava alvo de imprevistos constrangedores.
As pequenas peças nos lugares visitados participavam da mágica prestidigitação do mancebo, que por sinal era bem competente; se bem que a suspeita de seus tantos pequenos furtos detonavam focos de piadinhas dentre os possíveis defraudados mesmo antes que a mão adestrada alcançasse qualquer alvo de desejo, coibindo o ato e gerando ojeriza no larápio!
A patologia acabou por afastá-lo de suas amizades pelo tempo suportado por alguém que amava o convívio, e logo ele visitava as relações abaladas ao tempo que anunciava tratamento psiquiátrico!
Enquanto desenvolvia qualquer conversa sacava do bolso o penhor de sua recuperação:
-É apenas um frasco onde reúno todos os medicamentos inibidores de minha compulsão!- E tragava sem água e com o esboço de riso confiante nos lábios, mas logo que permitia a ocasião reclamava a sede que não teve ao se medicar, ou as dores fisiológicas das quais todos padecem e visitava sozinho a cozinha ou o banheiro...
Vasculhava qualquer cesto de lixo, e todo descartável que com certeza nunca dariam falta e o embolsava ainda que envolta em pútridos detritos; voltando à sala desculpava qualquer demora e imergia ainda mais agitado na prosa!
Em sua casa revirava os manchados bolsos na avidez de apreciar seu produto!
Um vício se disfarçou em outro, e em sua mudança convidou seu inquilinato:
A cinzenta e cevada família de ratazanas, que se esbaldava na fétida imundice de seus pequenos, porém volumosos crimes!


Anderson Dias Cardoso.

domingo, 4 de novembro de 2012

Sob a Perspectiva Dos Esmolantes...


Resolveu esmolar, mesmo sendo discreto milionário e vestiu paletó e gravata, perfumou-se com importado e seguiu com persona agradabilíssima pedindo trocados para almoço e bebidas finas.
Percorreu curto caminho abordando todo transeunte possível e notou que a simpatia do sorriso e o alinho das vestes rendiam mais dinheiro que qualquer dor ou chaga dos desprovidos!
Logo teve bolsos pesados, antes mesmo do estômago ser um incômodo, e decidiu-se pelo almoço forçado em lugar que o cortejo de bajuladores se formava pela suspeita de posse.
Escolheram-lhe a mesa adequada, postaram o prato caro do qual o garfo apenas importunou algumas folhas e grãos, e ao sorver todo o vinho de uma garrafa o coração se alegrou ao ponto de a gorjeta ultrapassar o valor do serviço...
Quando deixou o restaurante a alma havia se expandido em suas perspectivas, e decidiu implorar por doações maiores para, quem sabe, um Porsche novo.


Anderson Dias Cardoso.
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