sexta-feira, 11 de março de 2011

O Menino Das Marionetes.


A traição delatada  e a ira paterna lhe presenteou com um espancamento e a amputação de uma enorme parcela  da língua, e a mãe, aterrorizada esperou pelo repouso do monstro e fugiu com seu ferido para uma aldeia distante.
A criança não mais falava,  e sempre se encontrava às pernas de sua mãe. Era criança agitada, triste, e por não saber como avivar aquele olhar ela pegou agulha e linha e pôs se a cozer alguns trapos e dando-lhes uma forma bem precisa, fazendo nascer  um boneco bem simpático! A criança sorriu, e a mãe lhe entregou o boneco, mas o garoto tomou os instrumentos e imitando seus  movimentos  logo o deu um irmão.
A criança se esmerou naquela arte e superou a genitora; logo a casa quase não continha tantos bonecos,  a mão construtora também os animavam em um teatro vívido,  multicolorido, e de personalidades  tão distintas quanto às dos humanos;  e no dia em que ela o enxergou junto a estante dos brinquedos, vestindo sua mão com um dos favoritos  ele se voltou com uma surpresa... A boca do boneco se moveu, e a voz do garoto soou!
Dois anos de silêncio, e ainda poucas palavras... Ele falava pelo boneco!
A mão abriu lhe a boca e encontrou a meia língua, e ela se ajoelhou o obrigando falar, mas tudo era gemido, então ela ergueu o boneco, pretendendo  desvendar o truque, mas  a simplicidade de tecidos e amarras era tudo!  E foi acomodando o boneco à pequena mão que a voz ousou ressurgir!
Os  bonecos então falavam de fantasias; cantavam e dialogavam desenvoltos, mas recusavam a emprestar a voz ao passado, ou a temas dolorosos. Eles confortavam a mulher, a faziam rir, e dessas brincadeiras nasceu um modesto teatro que alegrou aquela aldeia.
Todas as crianças se achegavam e até se acotovelavam a fim de observar a menos distância um espetáculo raro para remotas datas, e findo espetáculo se aproximavam ainda mais; admirados  com tão grande talento em tão pequeno corpo! Os bonecos faziam festa!
Muitos dias de teatro e as crianças, já acostumadas com os bonecos  tentaram conversa com seu manipulador, mas este; abrindo os lábios tentava, mas não deixava escapar nenhuma palavra; a mãe, comovida  anunciou sua mudez e todos os olhos se cruzaram em desconfiança e a mulher reforçou abrindo a boca e mostrando a língua mutilada! Ela lhes contou a história; eles se foram murmurando...
A noite trouxe uma multidão à porta da casa, e os gritos os arrastaram para a frente do casebre e as tochas os iluminaram mais que a lua!
Clamaram: - Bruxa! Demônio!- E os apedrejaram
Naquele tempo não se conheciam histeria... Naquele tempo não Havia Freud.

Anderson Dias Cardoso. 

segunda-feira, 7 de março de 2011

Diógenes e a Lâmpada.




Os pés empoeirados chutam a peça, o corpo se inclina, apanha e limpa-a fazendo reluzir o metal desprezado.
Ia atirá-la fora, como um desprezo às tentações dos deuses que desde muito ignorava, mas a vibração do artefato o aterrorizou, e a névoa se corporificou como uma
manifestação quase onírica que ofereceu, com voz firme, os desejos que lhe cabiam.
-Mestre Diógenes, tens direito à três desejos!
O andrajoso se irritou ao máximo! Reduzira ao mínimo os caprichos da vida e agora outro (além de Alexandre) o tentava seduzir com as intranquilidades do possuir!
Nada queria, mas a voz instava ansiosa para que seus pedidos o libertassem.
Diógenes se lembrou de seus parcos bens; seu barril-casa, seu alforge, seu bastão e tigela e o coração se estremeçeu ao imaginar perder sua liberdade ao se prender pelo apego a oque quer que fosse e então voltou-se resoluto ao Gênio e barganhou seus desejos.
-Dos três quero somente um, e desobrigado estará de sua empreita!- Acertada a estranha troca o Gênio inquiriu o filósofo e lhe concedeu o pedido.
O Gênio partiu radiante, deixando selado a lâmpada; agora habitada por um eufórico novo morador.
Muitas outras vezes esfregada, a lâmpada liberava somente o pó que maculava as mãos pois o filósofo se recusava sair e atender qualquer pedido que o libertasse de sua nova liberdade...
Um lar...era tudo que precisava!

Anderson Dias Cardoso. 
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