quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Mão Do Sindicalista.


Era sindicalista, como tantos, e como um em particular; logo que ascendeu àquele ponto em que se costuma se envaidecer sua destra resolveu-se por pender insensível, para um horror meio controlado de quem a possuía.
Então o homem usou de suas influências em todas as consultas, perícias, laudos; e, ao ser declarado inválido uma aposentadoria exorbitante foi estabelecida arbitrariamente, não fazendo jus a holerite ou contribuição!
Daí, de sindicalista à político a vida seguiu com toda obviedade e trânsito por círculos de influência e interesse, agregando com demagogia todo elemento humano para sua quase certa reeleição.
Curiosamente a mão doente segurava em bailes e eventos a taça, apertava outras mãos, e pagava propina!
Quando interrogado, confrontado, ou acusado por ostentar uma mão saudável onde devia haver um membro mirrado pela doença, o deputado sorria e dizia que a peça havia sido voluntarioso caso de “síndrome da mão alheia”, da qual havia conseguindo em análise uma concordância.
Agora lia seus pensamentos, e lhe servia por solidariedade tudo que carecia!
A psicologia, tornada em desculpa, tornara obsoleta a amputação de dedos com motivos de picaretagem!



Anderson Dias Cardoso.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Doutorando Em Músicas De Acasalamento.


É bem sabido por todos, ou quase todos, que os governos e poderes se utilizam da transgressão de significados para confundir e dominar intelectualmente e ideologicamente seus povos, assim como já vimos no clássico 1984!
No meu doutoramento coagido em “Músicas de Acasalamento”, que anda ocorrendo por relações de cunho empregatício com pessoas bacanas porém, de gosto musical duvidoso eu pude notar o potencial bélico disponíveis em flashcards e Mp3 das massas!
É claro que esse tipo de “arte descartável” tem uma função menos recreativa do que parece, e sua real intenção é o embotamento intelectual por conta da repetição, da já citada transgressão de significados e êxtase sexual, dos quais posso comprovar empiricamente a verdade e potencialidade desse fato, desde que meu subconsciente tem sido condicionado a atraiçoeirar-me e me diminuir à processos meramente vegetativos de forma que as palavras não detém mais sua multiplicidade de significados!
Por exemplo, quando qualquer veículo, orgânico ou não, dispara aos meus ouvidos a palavra "pai" toda a gama representações de autoridade, proteção, suprimento, e outras interpretações abstratas, poéticas e pertinentes colapsam e meu cérebro convulsiona em uma cantilena agressivamente desafinada, dissonante e repetitiva:
“-...no fusquinha do papai!Pai!Pai!Pai!Pai!Pai!
Ontem minha esposa me pediu auxílio com a limpeza do soalho, e a mente recomeçou o looping reducionista da palavra chão em ritmo e batidas de funk, e assim é com todo parco vocabulário gritado pelo radinho do Paraguai em meu horário comercial, de segunda à sábado!
Como toda “letra” tem conotação sexual algumas palavras tornam toda alma feminina em “cachorra”, “tchutchuca”, “novinha”,alteadas para além da potência dos meus fones de ouvido e assim tem se assomado em tentativa de me assombrar com promiscuidade e lascívia desagradáveis, então eu forço o equalizador, ajusto o aparelho às cavidades auriculares e tento voltar ao mundo ao qual me delicio, volto a prestar a atenção à cadenciada leitura auditiva do livro do dia...
Recobro ai um pouquinho da minha humanidade furtada.


Anderson Dias Cardoso.

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