quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Vingança Dos Pequenos.

E eis que novamente o imenso passaria a destruir campos e vidas; este, e outros dos quais surgiam no repente reivindicando o que não lhes pertencia, e então, haviam gritos e às vezes diálogos dos grandes e tudo se acalmava outra vez.
Outro dia quente, e ele nos surpreendia ao cobrir com o corpanzil todo o horizonte e pisar montanhas.
Seus passos se faziam sentir, junto ao tremor do medo em corpos tremelicantes.
Moveu um carvalho com as grossas solas de seus pés; negou as às estradas espaçosas, pois a zombaria dos passos largos em diminuto mundo dizia muito à respeito das barreiras, ou tentativas de lhe impedir o avanço.
Baixou-se num lago, e sorveu suas reservas num gole e, para completar a desfeita, fez chover urina sobre telhados e campos.
As mulheres correram primeiro, não muito antes depois de seus homens, e quando cada qual se guardou na frágil seguridade de suas  casas as pernas do colosso passaram ao largo.
-Ele vai aos currais!
-Melhor que nos furte alguma rês, do que desfilhe nossas crianças.
Estas, e todas outras palavras foram sussurradas em ambientes de pavor enquanto o gigante se dobrava e uma enormidade de mão colhia um pobre bovino, que se debateu até descer pela boca faminta.
O gigante girou a face para expor a satisfação de sua vitória aos pequenos, sorriu, e no instante de seu brado sentiu o animal travar-se em sua garganta.
Tossiu,tossiu,tossiu...
Os dedos que tentaram voltar o corpo agora rasgavam o pescoço.
Uma giganta chegou à acudir; mas a vaca de plástico foi a derrota do poderoso...
E este tinha oito anos.

Anderson Dias Cardoso.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Rapunzel...

...E da caminhada de dias, o frio das chuvas e das surpresas de qualquer perigo o levaram ainda sim ao altear da torre sem portas.
A hera vestia justa suas pedras, e toda árvore se envergonhava de sua estatura diante do corpo mais robusto da construção, onde a leveza dos pássaros ousava perscrutar janelas e espaços.
Ela permanecia na espera, de olhos atentos às clareiras e fogueiras que se aproximassem de sua solidão e de forma alguma ignorou o som do casquear que cantava suas esperanças não longe de suas impressões.
Fingiu surpresa, após um tempo razoável voltou os olhos para fitar o amor que chegara, e eis que luzia suas cores à força do sol.
Ela, angustiada, lançou lhe a cabeleira para que a alcançasse o abraço, e ele fitou o amontoado dourado que era convite ao compromisso.
O príncipe tateou-lhe os fios, e o exalar de seus aromas lhe brincou deliciosamente às narinas; perscrutou na densidade do trançado por vestígios de vidas, ou caspa, mas ela se mantinha limpa, com esforços que não se podia imaginar.
Ela acenou sua pressa, e ele, seguro em sua firme maciez, se firmou em algumas pedras ascendentes.
Ela sorriu para sua liberdade e matrimônio; ele se enamorou pela gravidade.
O pequeno corpo foi puxado da janela com violência e riso, e quando se quebrou na densidade do soalho ainda tremeu por tempo de três suspiros.
A mão do amante deitou fora a carapaça reluzente, e sacou da algibeira a navalha.
Não por acaso suas perucas eram tão caras!
   
Anderson Dias Cardoso.
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