domingo, 7 de julho de 2013

O Negócio Dos Miseráveis.

A miséria do local havia endoidecido alguns, e, quando da precária feira que ainda restava aos barões locais, seu expediente era breve, seus lucros, interessantes, e seu desperdício beiravam a extravagância!
Diante da perecibilidade dos alimentos, e as distâncias das cidades, era inviável e tolo recarregar os veículos para reaproveitar as sobras não vendidas; então o que se via era o despejo de produtos sobre a poeira acumulada dos paralelepípedos!
Era logo que a tímida multidão dos necessitados serpenteava entre a classe média, ainda consumindo, para tomar para si as melhores sobras!
Mas isso fora no princípio, antes que o pudor subisse à consciência do povo, pelos insultos e deboches duns rapazinhos nobres que ocasionalmente visitaram o evento à escolher frutas que lhes melhorassem a textura da cútis, e cereais para regular os intestinos!
Hoje em dia a organização sofisticada, as roupas melhor conservadas, e o desfile das simuladas dignidades (Aliás, este era o nome do dinheiro circulante no meio) eram presentes na feira paralela um pouco distante das vistas da primeira, um tempo após a mesma, feita de descartes e interpretações!
E eis que vinham coletores, com suas barracas improvisadas de caixotes, lona, forrados por qualquer trapo pouco remendado.
Daí, formado os corredores desalinhados de esfarrapados feirantes os pulmões pouco treinados convenciam aos gritos, e as mão sujas realizavam o escambo.
-Um quilo de tomates por três Dignidades!
-Olha a batatinha freguesa!Só cinco Dignidades e meia Esperança!
-Olha a cabeça da piranha!Tá bonita pro molho freguesa!Vamos levar que tá barato, só uma dignidade e setenta e cinco Esperanças!
E aquele amontoado de esfarrapados se movimentava entre os comércios brigando por preços, imitando os maneirismos esnobes dos que compraram primeiro, trocando notas desenhadas à mão...
Era um espetáculo estranho...
Era um espetáculo triste!  



Anderson Dias Cardoso.
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