sexta-feira, 14 de agosto de 2015

A Casa de Adoção de Enjeitados.



Não se lembrava como lhe chegou às mãos, mas o panfleto bem impresso, com enunciado em relevo e fotos convincentes do local e habitantes, o fizeram pensar em sua condição.
Subempregado, cheio de dívidas, e completando uma tripla jornada; encerrada com a troca de fraudas geriátrica, o banho com lenços umedecidos e preparo da “papa”. O velho gemia um pouco, se contorcia algumas vezes sobre o colchão de molas, para depois ressonar alto, lhe perturbando o foco no último noticiário.
A proposta parecia excelente, mas ele meio que se envergonhava da resolução. Decidiu-se por não comentar com ninguém até que o financiamento no banco, e a entrega do pai fosse uma realidade.
Felizmente, hoje em dia, algumas entidades são desburocratizadas, e interligadas.
Assinou a papelada com o timbre “Casa de Adoção dos Enjeitados”, que em letras graúdas, logo abaixo do subscrito valor recebido, alertava aos pretéritos responsáveis que, por conta da incorporação naquele novo núcleo familiar, eles haveriam de ser totalmente desligados de todas e quaisquer relações pregressas, das quais estas eram terminantemente proibidas de tentar qualquer contato, ou mesmo retornar algum dia. O arrependimento era coisa impossível!
Abraçou seu velho uma última vez, mas não disse nada. Não queria tornar aquilo mais doloroso do que o necessário.
Quando atravessou aqueles portões, se sentiu aliviado. Sabia que o homem teria uma vida melhor agora, à despeito de tantos boatos maldosos dizendo que as pessoas ali entregues, fossem velhos, crianças ou doentes mentais,  eram “descartados” assim que a família partisse.
As pessoas são muito cruéis com quem só quer fazer o bem!




Anderson Dias Cardoso.

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