quinta-feira, 19 de julho de 2012

A Vida é Muito Mais Estranha Que Bolachas Amanteigadas Em Um Copo de Leite!

Não pela dignidade da estrutura humana, ou algum sentimentalismo estranho destes cultivados, e cultuados nos dias atuais!Não!
Era mais um racionalismo matuto, torto pelas simplicidades, faltas de academicidade; cheio, no entanto de conceitos novos, lendas urbanas e pseudociências das quais fora imerso desde sua migração para uma destas pequenas Babéis que se multiplicavam às margens de quaisquer rotas de desenvolvimento.
Soubera, através de noticiário, que já beirava os limites da expectativa de vida de seu gênero, e, passou se preocupar com uma muito comentada suposta comercialização de vísceras de defuntos de parentelas omissas.
Tomou desesperado alguns “mirréis” de empréstimo com agiota barateiro e adiantou ao legista local qual o procedimento a ser tomado quando viesse à óbito!
O homem contou o dinheiro satisfeito, tentou o acomodar na carteira surrada, mas o volume impossibilitava o fechamento.
O camponês voltou à sua casa para anunciar a transação sensata que havia operado, garantindo que os desonestos não lhe roubariam as entranhas.
Esposa e filha se orgulhavam da engenhosidade do velho, e lhe preparam torresmo, lingüiça mista e carne de latão para agradar o espírito cansado das tribulações de um dia tão burocrático!
A comida agradou o paladar, e cerrou lhe também as coronárias!
O corpo esvaziado de espírito e entranhas foi velado na menor capela da cidade, e, após os prantos de respeito e saudade de uns poucos, a duas mulheres reivindicaram do subornado o produto de seus serviços, e ele entregou a caixa de isopor refrigerada por meia barra de gelo e toda aparelhagem interna do falecido. Aconselhou-lhas a salga, elas menearam a cabeça em concordância e partiram cambaleantes pelo peso do estranho souvenir.
Ainda hoje é mantida a peça ressequida e enegrecida, imersa num pequeno mar de sal, em uma caixa esmerada de vidro, bem ao lado da televisão...
Uma vela, e um terço toda semana, após a novela das oito... Os vizinhos sempre comentam!

Anderson Dias Cardoso.

Um comentário:

Célia disse...

rsrs...que coisa, não? rsrsrs..como sempre, surpreendente!
Obrigada por comentar meus humildes textos...é um orgulho q tão nobre escritor os leia! rsrs..abraços!

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