segunda-feira, 11 de abril de 2011

Amor De Filha.


Algumas vezes salvas da miséria pela habilidade culinária da mãe, que vez por outra era trazida a casas opulentas para preparar banquetes, dos quais as sobras e umas poucas notas lhes recompensavam.
 Gasto os parcos rendimentos e devorada a comida fria a preocupação se assomava à nova fome e a mulher saia a biscatear de todas as formas para lhes assegurar o teto e o consolo ao estômago vazio.
A necessidade e caráter a condicionaram ao trabalho, e desses a primeira lhe forçava a aceitar centavos por litros de suor, mas esperava da vida a recompensa em sua filha e quando ousava sonhar um pouco mais além se via retribuída por uma filha formada e próspera, em uma casinha sua e uns poucos mimos.
Das freguesas costumeiras uma se tornou amiga, e sua filha amiga da filha, as crianças se perdiam na imensidade do imóvel enquanto a mãe revezava entre o fogão e a vassoura.
As crianças se encantavam com a imensa coleção de bonecas, da quais selecionavam as mais belas para construírem suas estórias e assumir seus papeis ainda que inconscientemente, e ao fim do expediente ficava a saudade, principalmente daquela que não tinha bonecas para fantasiar!
Mãe e filha dobraram a esquina, e a mão calejada entregou uma moeda à pequena para que satisfizesse um pequeno capricho de uns poucos caramelos no bar mais próximo; e separando-se a menina alcançou o balcão e fez seu pedido e os recebeu em um saquinho quase murcho, e ao se virar para retomar sua volta à casa um homem de camisas brancas a abordou, e nivelando se a ela, e olhando nos seus olhos ele se disse um anjo, pediu que não gritasse ou revelasse sua identidade e lha oferecia o desejo do coração!
-Peça; eu vim para realizar!As palavras brilhavam entre  dentes branco!
A garota baixou a cabeça, lembrou se de sua mãe, dos trabalhos e fadigas e fez silêncio por uns minutos e retornou ao desejo já decidida:
-Quero bonecas mais belas que as de minha amiga!
Satisfeito o desejo o anjo a deixou e as histórias de mãe e filha seguiram seu previsível caminho rumo à mediocridade...

Anderson Dias Cardoso.

2 comentários:

OceanoAzul.Sonhos disse...

Prendeu-me do inicio ao fim. Para reflectir...
Abraço
oa.s

Célia disse...

lembrei agora da minha infância, qd visitei uma amiguinha q tinha lindas bonecas e eu, passei todo o tempo admirando-as, fá q as poucas q eu tinha, não chegavam nem perto de uma boneca imensa, maior q o meu tamanho de menina de cinco anos...rsrs..qd saí dali, pedi pra minha mãe uma igual, mas, isso nunca aconteceu..rsrs..lindo demais o texto!

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