domingo, 8 de agosto de 2010

O Grande Livro de Um Grande Pai.



Ele era assim, meio rústico, mas sempre com um volume massudo de capa
negra, sem letras impressas nas mãos, e sempre ressaltando a
importância dos livros na vida de uma pessoa, sempre sentado na
poltrona bem puída gostava de ao fim da tarde ler uma história para
mim. Eu adorava cada uma delas, mas a daquele pescador do Rio Negro era
a que mais me encantava! Ela dizia de um homem que ao pescar um grande
peixe, deixou cair seu filhinho naquelas águas, e nunca mais o
encontrou, era uma história moral, e seu começo dizia: "Naquele rio de
águas espelhadas em que perdi para sempre um pedaço de meu
coração...Era uma delicia, vívida, dolorosa..."As mãos calejadas
folheavam o livro, e as histórias terminavam com um sorriso, e eu
admirava meu pai, e queria me transformar em um homem culto como o
modelo que todos os dias me inspirava. Na escola minha educação cobrou
o preço de meu pai; nós não nos viamos muito, e ele cansado e castigado
pelo sol, deitava no meu colo e pedia que eu lesse uma história, e eu
apresentava meus dotes, inicialmente tímido, vacilante, e com o tempo,
seguro, orgulhoso!!!Meu pai sorria, e muitas vezes dormia de cansaço,
eu lhe beijava a testa, e ele acordava satisfeito e ai para cama, para
acordar dai à algumas horas.Eu me formei, ofereci meu troféu ao meu
pai, e o convidei, na cerimônia de colação de grau à subir ao púlpito,
onde juntos leríamos um resumo das histórias que me ninavam quando
criança, ele subiu constrangido uma dúzia de degraus, de olhos
marejados de emoção; me abraçou tomou me o microfone e sussurrou: Eu
não sei ler!!!A confusão saltou me nas faces, e a vergonha de meu pai
me doeu o coração!!!Ele, ainda com o microfone em mãos se espôs, e
todas as estórias me vieram à mente, e me foi desvendado aquele livro
negro, e o suor de meu pai se tornou ainda mais precioso aos meus
olhos, então chorei em seus abraços. A manhã veio luminosa, e um lápis
traçou algumas letras tortas no caderno, e brincavamos como crianças e
meu pai tomou me o óculos e o livro, fingindo ainda outra vez que o
lia, e ao fecha-lo me chamou de doutor com um orgulho não disfarçado, e
se desculpou por mentir-"Queria que tivesse uma vida melhor, e sabia
que os livros lhe dariam isso...", e o abracei, orando para que meu
amor fosse uma recompensa suficiênte!!!E então fui mestre de meu mestre, e o
introduzi no mundo hermético das letras, e ele se dizia pleno, e se
maravilhava com cada frase, cada período, cada parágrafo, e ai estendi
lhe meu maior presente, um livro!!! Ele acariciou-o, e abriu a capa,
onde estava escrito: "Naquele rio de águas espelhadas em que perdi para
sempre um pedaço de meu coração...Era uma delicia, vívida,
dolorosa...", então seu sorriso brilhou mais que o sol!!!

Anderson Dias Cardoso. 

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