quinta-feira, 13 de maio de 2010

O Homem De Lata.


E Doroty pôs em seu peito um recorte, que era de papel.
- Toma, é teu coração; não o sente batendo, quente e macio?
-Não sei... Existe mesmo algo aqui dentro mexe, pulsa, mas ainda é vazio - Acaricia o peito lustroso.
Alice abaixa-se enternecida:
 - Olha aqui, uma flor que desabrocha, tão delicada, tão frágil!
O Homem-de-Lata sente-se desajeitado diante de tanta doçura e sussurra umas poucas palavras simplórias.
-É linda... Mas é o teu perfume que a acrescenta!- Doroty encantada arranca-a, e comprime contra a tez branca.
-Tão Bonita! Morrerá em alguns momentos, mas ainda assim jamais vi algo tão bonito.
Os olhos infantes se punham impotentes diante da beleza, e tragédia daquela fatalidade.
-Não... Não quero que morra! Uma lágrima desceu e brincou sobre as pétalas vermelhas, o caule, e os dedos delicadamente longos - Tenho um presente para ti, latinha!
-Uma rosa para perfumar-te o coração - Doroty toca com os lábios a rosa, abre a portinhola do peito do homem de lata, e a deita ali.
 - Teu coração agora é doce, como a fragrância dos campos, mais doce do que o coração dos homens a flor nunca murchará assim como teu coração não deixará de bater!
Doroty o beija na face - És tão especial!
O tempo foi se perdendo em horas, dias, meses, e a flor vicejou e cresceu; como o coração, para quase além do peito, e latinha os sentia ainda mais perto dela.
-Amo você - o sorriso morreu envergonhado.
Doroty soltando os cabelos trigueiros olha-o condescendente; respira profunda, imperceptivelmente pelo narizinho retilíneo.
-Eu partirei amanhã... -Diz Doroty com voz sumida - Você sempre soube!
-Esperei que... Acho que sempre tive a esperança que ficasse... Comigo - A cabeça se inclina, e as mãos cobrem o rosto reluzente.
- Fique... Eu preciso tanto de você! - A voz humilhada doía à garganta.
- Amigo; eu não posso mais ficar. Não seria justo, ou mesmo verdadeiro. Mas deixo contigo lembranças de mim! Um coração, e uma rosa.
- Presentes que não pedi! Não desta forma! Quanto ao coração, agradeço; à rosa não. Não foi um presente...
-Como? Se vejo um delírio vivido em teus olhos, um gozo que não havia...
- Sim, tu assim enxerga, por que respira o hálito floral que me vêm à boca, mas ignora os espinhos...



Anderson Dias Cardoso.

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