Toda caminhada é do berço ao túmulo.
Não se se sabe quantas léguas nos restam, mas estamos tão cansados!
Anderson Dias Cardoso.
Toda caminhada é do berço ao túmulo.
Não se se sabe quantas léguas nos restam, mas estamos tão cansados!
Anderson Dias Cardoso.
- Gostaria de ter dito algo ao seu pai, antes de que ele partisse?
- Não sei... Talvez que, desejaria que ele tivesse sido meu avô.
Anderson Dias Cardoso.
Milhares de curtidas!
Frases belas, sensibilidade, talvez um pouco de angústia e dor?
Ah! Mas que alma não as possúi?
Mancebo encontrado morto. Cadáver de três ou quatro dias. Sozinho. Casa e corpo em entado deplorável.
Músicas não são somente um refrão.
Anderson Dias Cardoso.
Naquela dicussão sobre otimismo e pessimismo, uns achavam que o copo estava meio cheio; outros, meio vazio.
Olhando de onde me permitiam observar, a única coisa que me vinha à mente, era que o copo estava imundo, e a água, se pouca ou muita, claramente inservível.
Anderson Dias Cardoso.
A barriga lustrosa, já redondíssima. Gravidez de quase nove meses.
Por não possuir condições financeiras e desconhecer o pai da criança, decidiu-se por "aproveitar" a situação, realizando e transmitindo sua própria cesárea.
Inês Ramirez Perez talvez não ficasse lá muito orgulhosa com este tipo de espetacularização do parto. Paciência. À sua forma, o que também estava tentando fazer era sobreviver, e talvez dar algum futuro àquela pequena criatura que habitava seu útero.
Forrou a cama com seus mais limpos lençóis, esterelizou o estilete que tomara emprestado, engoliu alguns analgésicos.
O velho celular já estava ligado e conectado de improviso, quando se deitou para trazer uma nova vida ao mundo.
Um princípio de corte, viscosidade do sangue nas luvas... A dor era insuportável.
Muita coragem seria necessária para prosseguir, porém o bolso estava vazio, a mesa lotada de contas atrasadas, então, como diria o poeta: "O show deve continuar!"
Pensou em quantas pessoas foram atraídas pelo seus anúncios, em suas redes sociais. Quantas a prestigiariam em seu tão incomum "evento", no presente e futuro?
Infelizmente, de onde estava não seria possível conferir os números e reações de sua platéia.
- Então, hora de começar! Disse baixinho consigo mesma, tentando se animar, encorajar-se.
A mão tremia um pouco, mas ainda assim a lâmina avançou sobre pele, gordura, músculos...
Com um pouco mais de sofrimento, esforço e contorcionismo, alcançou, e rasgou o bendito útero.
Olhos, ora meio embaçados, ora se "apagando e voltando", cabeça um pouco confusa. Gritou de dor, enquanto enfiava a mão dentro de si, para arrancar a criança.
Tateou seu interior, vasculhou-se tão bem quanto possível em situação de agonia e consciência vacilante.
A luz de seus olhos pisca.
Vazio! Não havia criança alguma!
Uma gravidez psicológica?
Náuseas, vertigem e a luz de seus olhos pisca.
O que achariam seus expectadores? Estaria louca, era algum tipo de golpe, ou uma peça publicitária para algum filme bizarro de terror?
Ao menos por hora, muita preocupação por nada. Sua internet havia sido cortada antes da primeira incisão.
A luz de seus olhos pisca, e apaga-se por completo.
Seria apenas a conta de energia atrasada?
Anderson Dias Cardoso.
Lupércio entra na casa se benzendo, senta-se pesada e desanimadamente ao lado de uma figura bastante conhecida.
-Estou com medo de morrer - confessa sem que perguntasse o motivo de seus ânimos, batendo duas vezes em sua perna esquerda.
-Que isso, meu amigo. Você me parece muito bem! Rosto corado, corpo em dia, pra sua idade...
-Depois de morta Helena, eu venho fumando três maços e meio de cigarro, por dia - outras duas pancadinhas na perna - tenho receios de não durar muito.
-Ah! Isto é realmente preocupante - compadeceu-se o compadre. Ouvi dizer que tem uma injeção por aí, que livra as pessoas dos vicios.
-Sei lá, eu não acredito muito nessas coisas não - sacou do bolso um "pito", acendeu, deu três "tapas"; um no cigarro e dois na perna.
-Um psiquiatra? Psicólogo? Psicanalista? Hipnólogo...
-Não. Não acredito - contabilizou mais duas batida no membro
Coisa triste é ver uma alma humana tão abatida e derrotada
Uma ideia ocorreu ao anfitrião, que logo começou:
-Entendo, e sinto muito por sua perda, seu vício. Um tio meu, Osclenides, se lembra dele?
-Nem ao menos ouvi falar - Tap! Tap!
-Pois é... Ele era muito parecido contigo, até em sua fisionomia. Muito cético, desconfiava de qualquer "tratamento de homens". Quando com dor, recusava até aspirina. Por outro lado, era bastante supersticioso.
Uma vez, enculcou em contar os elementos dos seus cigarros; papel, filtro e cada fragmento de fumo daquele tubete malicioso.
Tap!Tap! - A mulher dele também faleceu?
-Sim. Só que o caso dela foi de velhice mesmo, e não de doença feia, como a da sua. Mas, me deixa terminar minha história:
Como dizia, ele separava, contava e recontava tudo. Se desse "par", a quantidade de elementos, ele voltava a enrolá-lo em uma seda nova, e fumava seu cigarrinho tranquilamente.
-E se desse ímpar? - Tap! Tap! Tap!
-Bem... Ele acreditava que morreria, pois algo parecido teria acontecido com um parente distante dele, sem qualquer motivo, depois de ele haver consumido um determinado número de cigarros.
-Nossa... Tap! Tap! Tap! Que coisa horrível! - enquanto falava, podia se notar um leve tremor na mão que segurava a bituca.
E o que aconteceu com o pobre homem? Tap! Tap! Tap!
-Morreu, de fato. Uma noite, já bem tarde, começou seu ritual para acender um "fumacento". Em sua contagem, descoriu que aquele dera número ímpar.
Como a vontade de fumar era maior que o medo de morrer, ele "queimou o fumo", e "bateu as botas".
Osclenides, depois de terminar essas palavras, se calou por uns instantes, esperando que o amigo impressionável digerisse aquela tragédia.
Depois disto, a prosa não durou nem 15 minutos.
Uma semana depois, ficou sabendo que o compadre reduziu seu consumo de cigarros a meia carteira por dia.
Desenrolava, contava e enrolava novamente, cada unidade.
Dava muito trabalho, tomava tanto tempo.
Anderson Dias Cardoso.
Anderson Dias Cardoso.
-Ei, Clark!
Não quer me dizer o que visto por baixo de minhas roupas?
O Homem de Aço sorria, enquanto espiava o corpo de sua amada Lois, com sua
visão de raio-X.
Tempos, e muitas aventuras picantes depois, e um infeliz diagnóstico de câncer
de mama.
Anderson Dias Cardoso.
O container de lixo, meu destino; o estômago fundo, vazio, seu guia.
Meus passos nem mais relutam em me conduzir, e minhas narinas não mais se enojam dos fortes e pútrido cheiros dos rejeitos de terceiros.
Um bocado de pão duro, umedecido e meio amolecido pela garoa
de horas atrás, as cartilagens e restinhos de carne, que “sobraram” em uma asinha
de frango, três tomates semi-apodrecidos, um restinho de refrigerante de cola,
quente e totalmente sem gás, para empurrar toda minha humilhação goela abaixo.
E ele estava ali, na porta de seu restaurante, me observando devorar seu lixo.
Ele, curioso sobre minha desgraça, já eu, revoltado com sua indiferença.
Estendeu-me o dedo, primeiramente apontando, logo, me chamando.
Me aproximei, e ele sorriu.
-Tens fome?
-Muita... Tanto que “fuço” aquilo que desprezou.
-Tenho comida aqui. Bastante para saciar-lhe qualquer fome.
-Vistes meu corpo raquítico debruçado sobre sua lata de lixo, enquanto sentia o aroma torturante de comida fresca de suas panelas me...
-Peça.
-Mas, eu não tenho nenhum dinheiro!
-Somente peça. Aqui em meu estabelecimento, as portas sempre estarão abertas a
quem puder pagar. E, de certa forma, a humilhação não é também uma espécie de
moeda?
Anderson Dias Cardoso.
Café forte, doce e quente, queimando sua língua.
Tão delicioso, que merece o sorriso que agora estampa-lhe rosto! Talvez, sua irmã queira, também, uma boa xícara.
Dez passos, e ela se posta ao lado da cama.
Três toques no corpo, e a surpresa... GRITO!
-Está morta!
Choro. Muito choro.
Angústia e desespero.
-Minha irmã! Preciso chamar alguém!
Corre para a cozinha, ao telefone mais próximo, porém, antes que chegue, olha para a xícara sobre a mesa.
-Parece que esqueci de você, não é verdade?
Apanha o recipiente, e o leva aos lábios:
-Frio! – Olha, meio desapontada, então, estende a mão à garrafa, em seguida, a sacode.
-Cheia! Espero que esteja fresco – fala consigo mesma, enquanto caminha até a pia, onde derrama o líquido escuro.
Quando volta, puxa a mesma cadeira onde descansara anteriormente. Senta-se e apanha a alça do recipiente, o curvando para entornar um generoso tanto na peça recém enxaguada.
Café forte, doce e quente, queimando-lhe a língua.
Se lembra de sua irmã. De certo que sua querida apreciaria um gole, talvez, uma broa...
Maria ainda a encontraria morta, por tantas vezes.
Anderson Dias Cardoso.